Não teve golpe. Não teve invasão aos prédios do Supremo Tribunal Federal ou do Congresso Nacional - Por Tiago Lima



Tiago Lima - O que houve foi um Presidente da República desesperado pela manutenção do poder de agenda, falando para duas multidões infinitamente inferiores àquelas que ele esperava. A oratória porca do chefe de Governo não empolgou os apoiadores, e seus ataques personalistas direcionados ao ministro Alexandre de Moraes incendiaram de vez o que sobrou das pontes entre Executivo e Judiciário.

Agora é hora de fazer as contas. No legislativo, partidos independentes como PSD, PSDB, MDB e Solidariedade falam em impeachment. Rodrigo Pacheco respira aliviado enquanto Arthur Lira se silencia às vésperas de uma rodada de consultas aos líderes partidários.

Bolsonaro termina o dia mais radical e mais enfraquecido do que quando o sol raiou. A expectativa de ruptura criada hoje pela sua parcela diminuta - mas barulhenta - de apoiadores passou longe de se cumprir.

Militares das três armas ficaram guardadinhos em seus quartéis, mais a espera de um telefonema do presidente do STF para conter eventuais vandalismos à corte, do que de uma mensagem dos generais que os comandam mandando-os para as ruas tomar de assalto a República. O golpe não veio aí - e tampouco virá.

Bolsonaro perdeu. Demora para uma tempestade de impeachment se formar, mas ninguém duvida mais do perigo que essa gente representa para o Estado de Direito. O que falta para os planetas se alinharem em favor da deposição do capitão é o elemento "rua" (contrária, no caso) e o baronato da Febraban e da FIESP. A imprensa já aderiu.

Ao logo desta semana o Conselho de Governo (e não da República) se reunirá para calcular os prejuízos à popularidade do Presidente e equacionar as próximas ações a serem tomadas. Do outro lado da rua, o ministro Fux e os presidentes Lira e Pacheco serão responsáveis, de fato, pelo futuro político de Jair Bolsonaro.

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Tiago Lima

Secretário Geral da Juventude do PSB de Pernambuco; 
Bacharel em Relações Internacionais;
Mestrando em Gestão Pública e Cooperação Internacional